Roma, 4 de mar de 2011 às 14:20
O assassinato do ministro católico Shahbaz Bhatti no Paquistão confirma o ódio religioso por parte dos extremistas muçulmanos que consideram estes feitos como "atos agradáveis a Alá que garantem a salvação imediata", denuncia um sacerdote missionário que trabalha no país há 30 anos.
Shahbaz Bhatti foi interceptado por um grupo de mascarados quando saía de sua residência rumo ao seu escritório. Os assassinos que se identificaram como membros do Al Qaeda dispararam contra o ministro com armas automáticas durante dois minutos. O ministro recebeu em total oito disparos que causaram a sua morte.
Os panfletos deixados pelos assassinos de Bhatti na cena do crime continham frases como "foi morto porque era cristão, infiel e blasfemo", seu assassinato é parte de "uma guerra de religião para eliminar a aqueles que desejam modificar a lei sobre a blasfêmia"; e "por graça de Allá, todos os que são membros da Comissão de revisão da lei, irão ao inferno".
Em declarações à agência vaticana Fides, o Pe. Robert McCulloch, missionário e amigo do ministro católico, adverte que com este brutal homicídio "todos os que estão comprometidos com a reforma da lei sobre blasfêmia estão em grave perigo".
A Lei de Blasfêmia é uma norma cuja base está na lei Xaria (islâmica) que condena qualquer ofensa contra Maomé ou o Corão. Qualquer muçulmano pode denunciar alguém por havê-la transgredido sem necessidade de testemunhas ou provas. As penas chegam inclusive até a morte e com freqüência esta lei é usada usa para perseguir os não-muçulmanos como no caso dos cristãos.
Para o Pe. McCulloch "os assassinatos motivados pela religião são declarados publicamente no Paquistão por extremistas islâmicos que os definem como 'atos que são agradáveis a Alá e que garantem a salvação imediata'. São declarações que um estado civil deveria deter".
"Quantas mortes temos que esperar até que as autoridades civis e os muçulmanos moderados tomem uma postura clara e adotem medidas eficazes contra o uso bárbaro e perverso da religião?", questionou.
O ódio religioso, denuncia, é cultivado desde as escolas onde se distorce os fatos que são "a maior fonte das tendências extremistas, que têm um impacto devastador na sociedade". Em alguns livros de texto oficiais as minorias religiosas são totalmente excluídas e não São consideradas "parte da nação".
Protestas pacíficas
A agência Fides assinala também que após o assassinato se deram uma série de manifestações espontâneas repudiando o assassinato. Estas ocorreram em Islamabad, Lahore, Karachi, Multan e Quetta.
Além disso, anunciaram três dias de luto público, desde a sexta-feira 4 até o domingo 6 de março.
Amanhã, sexta-feira, será proclamado um dia de "jejum e oração". Os restos do ministro serão levados a igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Islamabad, onde Dom Anthony Rufin, Arcebispo local, celebrará uma missa de sufrágio em presença do Encarregado de Assuntos da Nunciatura Apostólica, Dom José Luis Dias-Marilbanca Sánchez, já que o novo Núncio Apostólico, Dom Edgar Penha Parra, ainda não tomou posse do cargo.
Logo a comunidade cristã se reunirá na tarde no Kushphur (que significa "Cidade da Alegria"), o povo católico da diocese do Faisalabad, onde nasceu Bhatti, para o funeral; que estará presidido pelo Bispo local, Dom Joseph Coutts, e concelebrado por todos outros prelados de Punjab.
Fides conclui indicando que se prevê uma maciça presença de autoridades civis, de líderes religiosos cristãos, hindus e muçulmanos, de ativistas pelos direitos humanos.